Dia do estudante: o que significa aprender e ensinar hoje em dia?
Estamos no mês de agosto, no qual se comemora uma data muito importante para nós educadores, principalmente. Estou me referindo ao Dia do Estudante, aquele com o qual lidamos cotidianamente. Costumo dizer que somos os artífices da educação e temos o privilégio de lidar com a Matéria Prima mais preciosa do mundo: os estudantes!
Assim, vamos ajudando a traçar destinos, profissão/missão das mais importantes e gratificantes neste imenso universo de afazeres.
Eu sou professora há mais de 40 anos e tenho imenso orgulho do que faço. Ensinar é tarefa árdua, pois transcende a nossa capacidade e a nossa vontade para se mesclar com a vontade de aprender e o interesse do aluno.
Mas, ao mesmo tempo, é algo mágico, pois requer interação, comunhão com o outro. Atrair o olhar do aluno é nossa primeira tarefa de educador.
Isso requer carisma, criatividade, senso de humor, empatia e abertura para novos aprendizados, pois quem ensina, aprende muito!
Hoje, quando paro para refletir sobre o ato de ensinar/aprender, percebo que muita coisa mudou nesse universo, e isso exige de nós um novo olhar, para que possamos assumir um novo jeito de caminhar/ensinar.
Não se aprende mais como antigamente, o que implica que precisamos mudar a nossa prática, “dançar de acordo com a música”, para participarmos ativamente do baile!
E o que significa aprender e ensinar hoje em dia?
Vamos contextualizar a pergunta para pensarmos melhor a resposta.
Vivemos na Pós-Modernidade, ou Modernidade líquida, uma realidade ambígua e multiforme, conforme mostra o sociólogo polonês Zygmunt Bauman.
Ser estudante na Pós-Modernidade é uma tarefa um tanto quanto desafiadora. E ser professor não é diferente.
São múltiplas e diferentes informações, tanto verdadeiras, como falsas; os professores não têm tempo ou capacitação suficiente para processá-las.
E os estudantes, idem. Sentem-se empanturrados de informações, pensam que sabem muito, quando na verdade têm a mente cheia de coisas que não agregam nenhum valor ao seu repertório cultural e/ou ético.
Os estudantes convivem com conceitos que estão sendo desconstruídos e com correntes doutrinárias diversas, que costumam confundi-los em relação à própria identidade.
E como se isso não bastasse, é preciso estudar em instituições escolares que estão ruindo em seus propósitos, em sua ética e em seus métodos de atuação na sociedade.
Então, agora dá para responder com propriedade a pergunta que ficou em aberto, pois aprender e/ou ensinar na Pós-Modernidade se confundem, já que o aprendizado mais valioso surge da verdadeira interação humana – é aí que reside a autenticidade, o belo, o novo!
A verdadeira criação de saberes brota desses encontros, onde professor e aprendizes estão na mesma roda, dispostos a ensinar e a aprender um com o outro.
Não podemos subestimar nenhum saber, pois cada pessoa que encontramos sabe algo que ainda não sabemos e vice-versa. E essa troca nos enriquece!
O grande educador Paulo Freire já dizia: “Ninguém ignora tudo, ninguém sabe tudo. Todos nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa. Por isso aprendemos sempre.” Eu acredito e pratico essa lição!
Tudo muda o tempo todo e precisamos aprender nesse ritmo acelerado. Assim, é preciso valorizar o diálogo, a capacidade de ouvir, o senso crítico, a criatividade e a afetividade.
É preciso filtrar as informações que nos chegam o tempo todo pela mídia, é preciso esvaziar-se das ideias ultrapassadas para dar lugar ao novo.
Somos todos aprendizes na Pós-modernidade e devemos estar sincronizados com esse novo contexto para aprimorarmos a construção contínua dos nossos conhecimentos.
Com tantas mudanças e exigências, professores e alunos precisam assumir também um relacionamento novo, mais colaborativo e mais afetivo.
É hora de aprender a aprender – esse é um dos quatro pilares da educação, que detém toda a novidade do ensinar/aprender na atualidade.
Mais importante que ensinar conteúdos, que abarrotar os alunos de informações, que fazê-los decorar algo que amanhã já estará ultrapassado, é dotar-lhes da atitude de pesquisadores e de eternos aprendizes, com as habilidades de vida para buscar com autonomia o conhecimento de que necessitam.
Para aprender a aprender o aluno precisa ser curioso, saber questionar, pesquisar com consciência e não cair nas armadilhas das falsas informações.
Nós, educadores, temos que ensinar nossos alunos a pensar, desde muito pequenos, temos que provocar neles a fome de aprender. E o resto virá por acréscimo!
Deixo-lhes, colegas educadores, este belo texto de Rubem Alves para pensar o dia do estudante. Você já deve conhecê-lo, mas leia-o como se fosse a primeira vez, saboreie, sem moderação o tempero gostoso da arte de produzir fome. Ah, e passe a receita adiante!
Bernadete Valadares é professora de Língua Portuguesa, Redação e Literatura. Completamente comprometida com o propósito da educação e encantada com seus pequenos grandes alunos!