Preconceito Linguístico nas escolas: como combater
A discussão sobre o preconceito linguístico tem sido cada vez mais frequente e por que não levá-la para as escolas? Entenda, neste artigo, de que modo o preconceito pode ser combatido.
A língua é muito dinâmica e diversa, estando sujeita à diversas variações. Toda língua possui essa versatilidade e isso é chamado de “variação linguística”.
A variação pode se dar a partir de vários contextos em determinados grupos, alguns deles podem ser histórico, econômico, geográfico ou sociocultural.
A comunicação é a principal função da língua e assim, as variações linguísticas acontecem.
A partir da necessidade de interação social, as variações ocorrem devido aos próprios falantes arranjarem e rearranjarem a língua.
Quando essas alterações são vistas como erradas, esse julgamento é chamado de “preconceito linguístico”. Esse preconceito age de forma depreciativa contra o modo que a pessoa fala.
Essa discriminação geralmente está ligada às condições sociais, étnicas, religiosas e de gênero dos indivíduos. Até mesmo em algumas situações relacionadas aos sotaques regionais.
O Brasil, por ser um país de grande extensão territorial, possui uma pluralidade da língua e uma enorme multiplicidade cultural.
Alguns exemplos de preconceitos acontecem entre pessoas de regiões diferentes, mais comumente com grupos de interior e mais pobres.
A escola pode ter um papel fundamental para diminuir esses casos e ajudar na conscientização da riqueza cultural do país.
Confira essas dicas de como o preconceito linguístico nas escolas pode ser evitado:
Promover a adequação linguística
O ensino da norma padrão é essencial, porém o uso da linguagem não é feita de modo uniforme e isso deve ser sinalizado e esclarecido.
Ao contrário de dizer se o uso de determinada linguagem é certo ou errado, a adequação linguística é o conceito que busca entender o contexto em que o uso da língua é adequado ou não.
Ou seja: em uma situação informal, a linguagem mais recomendável a se usar é a informal. Já em uma situação formal pede o uso da norma padrão.
Quando usamos “vc” para abreviar a palavra você em conversas pela internet, estamos adequando nossa linguagem ao ambiente informal.
Entretanto, sabemos que não podemos usar a mesma abreviação em situações formais, como na escrita de um documento oficial.
Um exemplo disso está no poema de Oswald de Andrade:
Pronominais (Oswald de Andrade)
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro
A ideia da abordagem sobre a adequação não é ir contra a gramática ou a norma padrão.
Seria apenas para conscientizar sobre a língua que está em constante movimento e que busca aplicar sua função principal, que é a comunicação.
Entender o contexto do aluno
Muitos alunos sofrem com o preconceito linguístico nas escolas justamente por ser de um contexto diferente da maioria dos colegas de turma.
Os contextos variam economicamente, geograficamente ou socioculturalmente. Pode ser desde o aluno de outro estado ou até mesmo vindo de uma família com poucas condições financeiras.
Muitas vezes o aluno reproduz o que está acostumado a escutar a linguagem usada no seu próprio contexto.
E por isso, é necessário acompanhar seu aprendizado e entender onde pode ser falta de embasamento teórico ou somente adequações linguísticas.
Incluir o assunto ao debate sobre bullying
Além de compreender a forma como cada aluno se comunica através da linguagem, é preciso abranger essa discussão para todo o grupo.
Os temas envolvendo bullying e cyberbullying já são tratadas com urgência pelas gestões escolares do país. Agora, é a vez de incluir mais esse tema: o preconceito linguístico nas escolas.
As consequências desse tipo de discriminação são graves assim como as outras e é necessário tratar esse tema com importância.
A pessoa que é excluída ou hostilizada por expressar a maneira de falar de algum grupo do qual faça parte, seja ele social, étnico, religioso ou de gênero, têm a sua voz silenciada.
Além disso, silencia o modo de vida desse grupo, a sua história e sua herança cultural. É importante abordar as pluralidades da Língua Portuguesa e mostrar que são válidas.
Organizar uma feira de regionalidades
Para celebrar as diversas variações linguística e a riqueza da Língua Portuguesa em um território tão vasto e múltiplo como o Brasil, nada melhor do que uma feira sobre as regiões do país.
Além de valorizar a língua, é possível mostrar como cada região se expressa de forma única e que suas diferenças são uma maneira de mostrar a pluralidade cultural.
O preconceito linguístico nas escolas, quando acontece, não contribui para um processo educacional democrático. Pelo contrário, cria barreiras para o enriquecimento do patrimônio cultural brasileiro.
A língua é responsável por transmitir a herança cultural de um povo e através dela, carrega-se aspectos de vida, crenças e valores de um determinado grupo ou sociedade.
Por isso, é preciso estar atento à esse tipo de discriminação linguística.
E você? De que forma procura combater o preconceito linguístico na sua escola?