Educação positiva: caminhos para desenvolvê-la em casa
Quando engravidei, fui buscar referências em amigas com quem me identificava. Fui pedir conselhos, opiniões, acolhimento e colo. Uma delas, a Bel, é mãe de uma linda menina, e a criava sozinha, como eu sabia que criaria meu filho. Perguntei a ela qual o segredo para criar uma criança tão encantadora quanto sua filha, e ela respondeu:
“Ai se tivesse receita… seria tão mais fácil, mas tem não! Tem que seguir seu coração. Eles são muito do que a gente é… tem fases que são absolutamente difíceis. Se a gente se abala, a gente desconta neles, fica bravo, briga e só se irrita. Mas se a gente ‘tá’ em paz é tudo tão melhor. Tudo que eles fizeram igualzinho quando você estava irritada, é totalmente diferente quando você está em paz… em paz a gente tem clareza, sabe?”.
O encontro com a disciplina positiva
Claro que, ainda estando com o filho na barriga, essa ideia só veio a se concretizar um tempo depois, conforme fui percebendo como eu lidava com as crises emocionais do Cauê e com as minhas.
Continuei pesquisando e me deparei com a disciplina positiva, cujas lições procuro sempre trazer comigo e compartilho aqui algumas ferramentas para lidar com essas crises. Criar desta forma é muito exigente e pode parecer muito difícil no começo.
É preciso sempre contar com apoio e estarmos alinhados com quem está ao nosso redor para que possa haver uma orientação clara para a criança, sem discordâncias que podem vir à tona no momento em que mais precisamos estar inteiros e serenos para conduzir a situação.
Meu primeiro passo para lidar com as emoções do meu filho é exercitar minha autopercepção e autoconhecimento: muitos de nós, adultos, não sabemos identificar nossas emoções e sentimentos e muitas vezes não sabemos como lidar, desconhecendo sua origem, até mesmo seu nome, e não assumimos a responsabilidade sobre eles, acusando o outro – o outro me causou aquilo.
Mas como pais, mães, tios, educadores, exigimos que nossas crianças com 2 ou 3 anos já saibam lidar com suas crises… assim, é difícil colocar em prática uma educação positiva.
Entender meu comportamento me possibilita um repertório autêntico para compartilhar essa experiência com o outro, ajudando-o a se perceber também.
Isso me ajuda a conectar comigo mesma para que, a partir disso eu consiga que me conectar a ele. É exercitar a empatia. Questiono-me também com frequência para saber qual a necessidade por trás do comportamento ou da emoção que meu filho expressa.
Principalmente nos primeiros 2-3 anos de vida em que a conexão mãe-bebê é bem forte, muitas vezes a criança está simplesmente espelhando uma situação vivida ou reprimida pela mãe, um contexto familiar ou um comportamento específico da mãe.
Tento refletir e observar o que Cauê está espelhando, tentando me mostrar. Quais situações estão ocorrendo que puderam gerar desequilíbrios emocionais em mim e que reverberaram na criança? Mudanças na rotina, fases do desenvolvimento…
Emoções com as quais não tenho sabido lidar e inconscientemente afetam o outro… qual a origem desses sentimentos?
E como lidar com essas emoções?
Humor é fundamental. Entre no mundo da criança, que é um ser lúdico, brincante. Vai de nossa percepção e intuição qual das técnicas aplicar a cada momento.
Não é fácil, diante de uma rotina agitada, cheia de compromissos, cobranças, pressões, afazeres sem fim, cansaço…
Mas se tivermos essa consciência e esse respeito por nossas emoções e a de nossos filhos, vamos nos lembrar de respirar um pouco mais fundo e ter a empatia necessária para auxiliá-los a super momentos de crise emocional (a que muitos chamam de birra, termo que não costumo usar).
Muitas vezes, uma crise se dissolve com cócegas, com música, conversar com alguém imaginário despertando a curiosidade da criança, perguntando onde está aquela criança tranquila que há pouco estava ali e procurá-la, iniciando um jogo de esconder (que eles amam)!
Ajudar a nomear e identificar os sentimentos e emoções, explicando para a criança o que houve. Por exemplo: “Você está cansado, com sono e por isso ficamos irritados, eu também fico assim quando estou cansada.”.
Ajude também para que ela conheça as reações de a emoção em seu corpo: coração acelerado, mãos frias, suor, dor de barriga… a criança vai apropriando-se de si, tornando-se consciente, e tende a se tornar um adulto mais pleno e empático!
Oferecer algo a criança: colo, abraço, olhar, sua disponibilidade pra estar junto, um copo de água, comida, um lugar aconchegante para descansar…
Algumas vezes basta fazer nada, dando espaço para que eles possam extravasar o que sentem – claro, cuidando para que não se machuquem ou machuquem alguém, apenas propiciando um ambiente seguro para que eles expressem o que sentem, afinal, “sufocar” uma emoção – dizendo “pare de chorar” ou “isso não é nada” – pode fazer com que, no futuro, surjam outros tipos de problemas.
É importante validar sentimento da criança, buscando compreender suas origens, auxiliando a reconhecê-lo e usando essa energia para transformá-lo em algo positivo e transformador.
É possível também redirecionar para outra ação em que a criança possa extravasar essa energia das emoções, oferecendo algo para jogar, ou socar, como uma almofada quando sentem raiva; massinha ou argila, oferecer um banho relaxante, um abraço, enfim…
Geralmente brincar com os 4 elementos ajuda a nos conectar!
Esperar. Respire, fique disponível, aguarde passar.
Muitas vezes, também fico nervosa e digo ao meu filho coisas como: “Agora eu estou muito nervosa, por isso gostaria de falar sobre isso depois”, “Agora estou muito irritada e não sei como agir. Preciso ficar um pouco quietinha”.
Ele entende e também aprende um pouco sobre tolerância, paciência e espera. Aprende que não precisa reagir, apenas, mas esperar o tempo certo para agir com mais serenidade e tranquilidade.
Se estivermos em paz, cuidando de nós mesmos e de nossas emoções – como sabiamente disse minha amiga – certamente estaremos conectados o suficiente para tomarmos uma ação amorosa, consciente e que auxilie a harmonizar as emoções de nossos filhos.
Dedique tempo especial à criança, somente a ela, para que ela se sinta importante e aceita. Muitas das crises vêm dessa necessidade, e se cuidarmos disso passaremos por estes momentos de forma mais leve, tranquila e consciente. E assim, ajudaremos a formar melhor nossos pequenos, por meio dessa educação positiva.
Carolina Rodrigues é mãe, arteterapeuta e educadora ambiental. Deseja imensamente contribuir para um mundo melhor, mais artístico, sensível e sustentável. Compartilha vivências criativas em educação no blog Dá Tua Mão e o olhar maternal em Os Olhos de Cauê.
Ricardo
26/setembro/2019 @ 13:53
Nossa, muito legal seu modo de educar os filhos.
Estou entrando no mundo da educação infantil e me deparei com este artigo enquanto pesquisava sobre o assunto para o meu blog: https://rcreborn.com.br/educacao-positiva/
Ainda não tenho filhos, mas, vindo do ramo da psicologia, consigo ver as consequências de atitudes impensadas de pais desesperados hehehe..
Educar é uma missão difícil. E se todos os pais tivesse a coragem de admitir para si mesmos: NÃO SEI O QUE FAZER ALGUÉM ME AJUDA, talvez não tivéssemos vivendo esse surto de depressão e ansiedade que estamos vivendo…
Mas claro.. tudo com muita calma, já podemos ver pais mais conscientes, como é seu caso : D
Obrigado por compartilhar sua experiência e vamos fazer o possível para que cada vez mais pais tenham acesso a essas informações tão valiosas!
Bel Bellucci
07/agosto/2018 @ 12:32
Querida Carol, grata pela lembrança. Você escreve lindamente e me fez lembrar de exercitar essas questões de carinho e amor sempre, rss… Sigamos <3
Carolina Rodrigues
08/agosto/2018 @ 11:02
BBelLinda! Eu que agradeço, sempre! Sigamos!! Que as palavras sejam um porto seguro para voltarmos nela e nos fortalecermos para os momentos desafiadores rs Gratidão! beijos
Maria Aparecida Carvalho de Pinho
03/agosto/2018 @ 09:35
Amei suas explicações e experiências. O amor , o carinho fazem com que nós vemos os outros com mais transparências,onde podemos tocar com mais singeleza as emoções de nossas crianças.
Só o amor constrói.
Carolina Rodrigues
03/agosto/2018 @ 12:03
Oi Maria. Gratidão por acompanhar e por suas palavras. Isso é muito importante pra mim! Amei: “só o amor constroi”. Tenho tentado esse exercício diário. Assim aos poucos vamos transformando… gratidão <3