De que forma trabalhar a inclusão em parceria com a família?
Sempre que percebemos que estamos fora de um processo, de um ambiente ou de uma situação, nos sentimos mal por isso. Queremos fazer parte daquilo que nos interessa, ainda que não estejamos dominando os assuntos ou temas discutidos.
Isso faz sentido porque o ser humano naturalmente faz parcerias sempre que sente a necessidade de se completar naquilo que não domina, seja no âmbito familiar, escolar ou entre amigos.
A prática da inclusão social se baseia em princípios diferentes do convencional: aceitação das diferenças individuais, valorização de cada pessoa, convivência dentro da diversidade humana, aprendizagem por meio da cooperação. (TROCOLLI, p. 21).
Essa definição é bastante clara sobre todas as questões que envolvem o processo de inclusão, em qualquer ambiente social, incluindo o escolar.
A exclusão pode acontecer em qualquer ambiente, até numa simples visita em nossa casa.
Hipoteticamente, imaginemos receber uns amigos, que tem um filho de 4/5 anos.
Se em nossa casa não tiver atividades ou brinquedos para ele se divertir, certamente, vai se sentir mal e querer ir embora, mexendo com a família, pois não será agradável para os pais um lugar que não tem condições de receber o filho.
Mas, se em vez disso, nós arrumamos uns brinquedos ou alguma atividade que seja de seu agrado, possivelmente a criança e os pais poderão ficar num ambiente aconchegante para eles.
Na escola, para que o processo de inclusão seja completo, é necessário o envolvimento de toda a comunidade escolar (pais, alunos, professores, coordenadores, gestores, auxiliares administrativos) tendo em vista a responsabilidade que cada um terá no processo.
Os colegas de classe devem ser os primeiros a receber bem, saber respeitar as diferenças nas brincadeiras, na maneira de como cada um reage.
Na verdade todas as pessoas que estão próximas da criança ou do adolescente são um pouco responsáveis pelo seu sucesso na escola, mas a família tem um papel preponderante.
É ela que vai fazer as informações sobre a criança circularem entre os profissionais de saúde e os da escola.
Sendo assim, o esforço emprenho maior será da família, considerando, nesse caso, principalmente os pais.
É a família que vai se empenhar para que as atividades acadêmicas consigam ser realizadas pelo aluno na escola. pois, muitas vezes os professores têm ideias para ajudar à mãe ou ao pai, mas precisam de um feedback rápido.
O primeiro passo é transmitir segurança para quem acompanha a criança. Isso é possível mostrando que todos os profissionais envolvidos conhecem bem sobre o assunto e que saberão como proceder nas situações de aprendizagem, no dia a dia da escola.
Os pais podem ficar atentos para verificar se o filho está fazendo todas as anotações; se entendeu as tarefas a serem feitas; se conseguiu se entrosar com os colegas; se conseguiu fazer as atividades de aula e como fez, garantindo que ele tenha exercitado.
A família também deve ficar atenta em verificar se o filho vai precisar de um mediador na sala de aula, evitando o isolamento por não conseguir desenvolver atividades acadêmicas.
Normalmente, o profissional de saúde indica um mediador quando define o diagnóstico do transtorno, mas a própria equipe pedagógica pode perceber a necessidade ou não da atuação desse profissional
Também é papel da família, observar o relacionamento com os colegas, pois com o apoio dos amigos fica muito mais fácil ser integrado às brincadeiras no ambiente escolar.
Dependendo da deficiência, os pais precisarão verificar se as atividades dadas pela escola estão coerentes com o nível de aprendizagem do filho, garantindo que não sejam passados conteúdos que estejam além de sua capacidade de aprender. Nesse caso, devem cobrar um Plano Educacional Individualizado, feito pela equipe pedagógica.
Nele, devem estar descritos todos os critérios usados para adaptar objetivos, conteúdos, temporalidade e formas de avaliação, tornando, assim, o processo mais justo.
Devem prestar atenção se a escola não está avaliando superficialmente, sem critérios coerentes, de acordo com um plano individualizado, beneficiando o aluno com notas boas, apenas para ser livrar de cobranças dos familiares.
As crianças que percebem suas dificuldades e sentem que não conseguem entender determinados conteúdos devido à forma como estão sendo apresentados, acabam ficando muito tristes, às vezes, deprimidos.
A consequência é uma criança que não quer aprender, não quer ir à escola, fica completamente desinteressada em qualquer assunto que se relacione às atividades acadêmicas, trazendo um transtorno para a família, de difícil solução.
Muitas vezes, os professores não têm conhecimentos suficientes para entenderem as deficiências de aprendizagens de seus alunos, pois nem sempre uma criança que não fala, por exemplo, significa que ela é surda ou que tenha TEA, mas pode não estar sendo devidamente estimulada ou pode ter algum problema orgânico.
Sabendo disso, o papel dos pais é pedir à escola a emissão de um relatório de acompanhamento com observações de comportamento que possam contribuir na busca de um caminho junto aos profissionais de saúde, se for o caso.
Quanto à hipótese acima, geralmente, os pais já percebem alguma disfunção da criança quando matriculam na escola, pela primeira vez, mas não sabem como agir ou por onde começar a procurar ajuda.
O importante é que a família, seja ela representada pelos pais, avós, padrinhos, irmãos ou cuidadores, mantenha uma boa relação com a escola e esteja sempre comprometida na busca de soluções sempre que apareçam empecilhos que dificultem o entrosamento e a inclusão de seu filho.
Valéria Francisco é formada em Pedagogia pela UCB e técnica em Secretaria Escolar. Especializada em Educação Especial Inclusiva pela AVM e pós-graduanda em Psicopedagogia, atua como diretora pedagógica do Jardim Escola Ursinhos Risonhos, com a feliz experiência de 24 anos na educação.