Como e por que educar usando a disciplina positiva
Filhos não vêm com manual. É um velho clichê, mas é verdade. Do dia pra noite vemos aquele ser tão indefeso dependendo totalmente de nós e temos que nos adaptar a tudo, assim como eles!
Eu achava que a prova de química era algo desafiador… que inocente! Acho que o maior desafio que enfrentei até hoje na vida foi me tornar mãe. Não sabia como era ter um filho e, principalmente, como discipliná-lo.
Os nossos filhos descobrem todo um mundo novo pela frente, enquanto nós descobrimos nosso mundo como pais. E, ao me tornar mãe, vi que essa jornada de aprendizado não é fácil. Conforme meu filho ia crescendo, eu percebi que as fases da criança são iguais às fases de video-game: a próxima é sempre mais difícil.
Dia após dia me via brigando ou tentando mostrar pra ele a mesma coisa, e dia após dia ele repetia os mesmos atos. Aos poucos, fui percebendo que havia alguma coisa errada, e fui pesquisar uma saída. Foi quando achei alguns textos e videos sobre disciplina positiva e me encantei!
A disciplina positiva, em poucas palavras, é o meio termo entre uma disciplina permissiva (“você pode tudo, meu filho”) e uma disciplina autoritária (“você não pode por que quem mada sou eu”). É um caminho alternativo, que se baseia em educar sendo firme e gentil ao mesmo tempo, sem punição, castigo ou recompensas.
Sim, isso é possível! Sei que parece algo difícil de se imaginar, pois fomos criados dentro de um dos dois extremos. Mas é fácil de se por isso em prática? Não. Afinal, fomos criados de uma forma permissiva ou autoritária, então para colocarmos a disciplina positiva na prática é necessário um esforço, uma autoavaliação, e vontade de fazer diferente. É entender que criança tem vontade, sim, e muitas vezes não as mesmas que as nossas e aprender a lidar com isso!
E o que é necessário para trazer a disciplina positiva para as nossas vidas? Primeiro, abrir a cabeça, estar disposto a quebrar os paradigmas que sempre fomos ensinados, estar disposto ao novo. Segundo, não menos fundamental: informação. Se munir de informação é algo indispensável, pois conseguindo ter em mente as ferramentas da disciplina positiva e seus princípios, seu processo se torna mais fácil.
Para ficar mais fácil vamos dar um exemplo na prática: imagine que seu filho de 3 anos esteja bebendo água e sem querer acabe derramando tudo no chão. Você pode sair correndo desesperado e pegar um pano pra secar; você pode dar uma baita bronca e chamá-lo de desastrado, falando que ele é um bebezinho e vai voltar a usar mamadeira; ou você pode usar uma das ferramentas da disciplina positiva e olhar o erro como uma ótima forma de aprender.
Que tal a partir desse erro perguntar a ele “como podemos resolver esse chão todo molhado”? Assim, ele consegue pensar nas consequências das suas atitudes e ao mesmo tempo como resolver o seu problema!
Uma outra ferramenta da disciplina positiva é focar em soluções. De nada adianta culpá-lo, o aprendizado será muito maior focando na solução do problema.
A criança não tem maturidade suficiente para falar qual a necessidade que ela tem no momento, então se o pequeno está querendo sua atenção a maneira que ele irá transmitir isso é fazendo coisas que sabe que irá fazer com que paremos o que estamos fazendo para olhar. E geralmente é da forma mais irritante possível!
Exemplo prático? Vamos supor que seu filho está batendo no gato e te olhando. Será que ele está batendo no gato porque é uma má criança e merece uma enorme bronca para aprender? Se a criança for um pouco maior e já conseguir ter um diálogo, que tal abaixar na altura dele e perguntar o que ela está sentindo, se ela está precisando de alguma coisa, e escutar o que ela tem a dizer?
Uma outra ferramenta da disciplina positiva é a escuta ativa, que desenvolve empatia e a disponibilidade para escutá-los. Perguntar se a criança quer um pouco de atenção e como podemos resolver o problema. Caso a criança seja um pouco menor e ainda não consiga manter um diálogo, mostre o que ela pode fazer em vez de falar o que não fazer. Exemplo: mostrar como se faz carinho em vez de falar simplesmente “não bata”.
A criança muitas vezes se sente perdida e compreende melhor quando delimitamos o que ela pode fazer e não o que elas não podem fazer. Também vale elogiar quando observar a criança fazendo carinho. Isso é um reforço positivo e a incentiva a continuar tomando atitudes parecidas.
No dia a dia é difícil de sair do automático. Lidar com as coisas no tempo certo e da maneira certa. É difícil, eu sei, pois muitas vezes esquecemos que são apenas crianças e que eles pensam e agem fora da maneira que esperamos.
O dia é corrido, a vida é corrida, estamos geralmente cansados, o que torna a disciplina positiva um trabalho árduo, e cheio de desafios. Porém é recompensador quando conseguimos ter uma melhor relação com nossos filhos, uma maior conectividades e a colheita dos nossos frutos.
Jheniffer Portugal é mãe, educadora parental certificada pela Positive Discipline Association e estudante de pedagogia. Criadora da página Abra a Caixa, que aposta no lúdico e na inteligência emocional para a formação integral das crianças.