Educação: por um olhar demorado para a formação dos nossos filhos
Era uma vez uma menina toda sentidos. Pés no chão, descalços. Cabeça no céu. Gostava de brincar, fazia amizade com pássaros, com a mangueira e o balanço do quintal, com o vento… Tocar e dançar-se pelo mundo era vital.
Aluna nota A, amava estudar, mas não entendia o porquê de tanta admiração por parte dos colegas e professores. Afinal, brincar de aprender era natural, assim como as lições e as questões exigidas nas provas da escola. Mas algo não se encaixava.
A menina foi crescendo e foi preciso calçar-se. Pisar em solo firme, entrar no mundo adulto, “sério”, “concorrido”. Gente grande não pode sentir nem brincar. Estudou, se formou, se pós-graduou e aprofundou seu contato com a educação. Buscou entender-se nas teorias: como manifestar na vida esse aprendizado equilibrando o SENTIDO e o Pensado?
Qual a relação entre dançar, brincar, ser no mundo com a Educação que desejamos, que forme indivíduos plenos, conscientes, comprometidos com a Vida? Como a vivência lúdica, criativa entra nos processos de formação?
Algo então aconteceu. A menina tornou-se mãe. Sentiu a necessidade de encantar-se novamente com o mundo para encantar o filho! Precisou lembrar-se da menina que estava adormecida para acompanhar o filho, todo sentidos, na descoberta do mundo. E tudo fez sentido!
Este é um apanhado de minha história. Sempre gostei de Educação, uma das minhas brincadeiras favoritas era “escolinha”. Geralmente eu era a professora. Gostava também de dançar e de meio ambiente, então resolvi, na graduação em Ecologia, colar esses fragmentos.
Envolvida no projeto de pesquisa “A Educação Ambiental e o Trabalho com Valores”, fui aprofundando em reflexões sobre a escola, formação de educadores e como a dimensão estética (de aisthesis, sentir com o coração) da educação é, geralmente, abordada superficialmente nos currículos, quando não esquecida totalmente.
Me especializei em Arteterapia e fiz estágio em um Ponto de Cultura participante de um projeto que conduzia a formação de educadores por meio de processos teatrais. Ao engravidar pude ter contato com textos sobre cultura da infância que vinham ao encontro de sonhos, de desejos e ideais que ainda não sabia racionalizar. As novas descobertas faziam muito sentido para mim.
Tive o privilégio – mas também a decisão – de conseguir me organizar para trabalhar em casa desde a gestação e para mim a melhor opção foi me responsabilizar integralmente pela educação do meu filho – hoje com 3 anos e 8 meses – até o período escolar obrigatório.
Nossa rotina é inspirada em histórias, canções, livre brincar e o aprendizado, natural e orgânico, é conduzido pelas próprias demandas do meu filho. Como diz a educadora Céline Lorthiois, “a criança tem uma capacidade imensa para maravilhar-se; muitas vezes, o que lhe falta é alguém que recolha seus espantos, que lhe devolva o valor dos seus entusiasmos e a dignidade de suas vivências, através de muita atenção”.
A possibilidade de estar disponível para meu filho, sendo “receptáculo de suas vivências”, apenas atenta a ele, observando-o foi, sobretudo, uma oportunidade para que eu voltasse meu olhar para mim, como se devesse me reeducar, para que ele possa se refletir em mim e ter seu tempo para crescer. Chegou a hora de colocar em xeque o que havia sido refletido, estudado, e buscar a coerência com as práticas na realidade mais possível para nós. E assim dançamos por aqui, sem pressa, aprendendo juntos…
Carolina Rodrigues é mãe, arteterapeuta e educadora ambiental. Deseja imensamente contribuir para um mundo melhor, mais artístico, sensível e sustentável. Compartilha vivências criativas em educação no blog Dá Tua Mão e o olhar maternal em Os Olhos de Cauê.