Homeschooling: sobre preferir educar o filho apenas em casa
Rejeitado pela maioria dos ministros do STF, o homeschooling, prática de ensino domiciliar, foi vetado. Mas, afinal, o que pensam os pais a favor dessa medida? Veja este depoimento da mãe e arteterapeuta Carolina Rodrigues sobre o assunto!
Sempre fui a “primeira aluna” da sala. A CDF. Amava o cheiro dos livros e dos cadernos encapados, o barulhinho do lápis dentro do estojo.
Para as provas, estudava a apostila e ia buscar em todos os livros que pudesse outras formas de compreender o mesmo tema.
Em casa era livre na busca dos conteúdos que faziam mais sentido pra mim e os organizava à minha maneira. As pessoas diziam que eu era inteligente que teria um futuro brilhante – leia-se: mestrado, doutorado e o que hoje entendo como carreira acadêmica. Mas eu sentia que havia algo errado.
A menina cheia de honra ao mérito, dedicada aos estudos, achava simplesmente que havia uma boa memória (afinal bastava decorar o conteúdo e era certo o 10 na prova).
Pergunte-me hoje se me lembro de algum conteúdo da escola.
Tinha poucos e bons amigos que trago até hoje e adorava ensinar os alunos que tinham certa dificuldade. Quando criança aliás, uma das brincadeiras favoritas era escolinha e meu papel sempre era o de professora.
Aos 17 anos ingressava na faculdade de Ecologia, na qual entrei vislumbrando trabalhar com Educação Ambiental. Devido a uma bolsa iniciei uma pesquisa num projeto de formação continuada de educadores (valores humanos e educação ambiental), do qual resultou meu trabalho de conclusão de curso e diversas reflexões sobre o sistema educacional que observamos em grande parte das escolas.
Mergulhei em Rubem Alves e João Francisco Duarte Junior e fui ampliando meu entendimento sobre Educação. Convivi com educadores “sufocados” por um sistema – e sistema é feito por pessoas – que os prendia numa “grade” a ser seguida.
Vi desmotivação, cansaço, vontade de transformação e também esperanças.
Me identifiquei com as novas concepções que me traziam para perto daquela menina estudiosa que tirava 10 na escola, mas nota baixa na vida: baixa autoestima, introversão, falta de habilidades emocionais para lidar com questões cotidianas que enfrentava, dificuldade de comunicação, de expressão de sentimentos e emoções…
Fui perdendo minha espontaneidade. Entendi que muitas coisas que havia aprendido não faziam muito sentido em algum momento.
Entendi que não conseguia unir tamanha fragmentação que me foi apresentada ao longo da vida. Queria e precisava de mais. Não segui área acadêmica como muitos esperavam.
Quando engravidei trabalhava junto a um grupo de teatro, que também se debruçava sobre o educador e a pratica de educadores. E toda a questão de como funciona o sistema educacional veio à tona com mais força.
Não havia espaço para o artístico nos ambientes formais – pois fugia da grade curricular e, nos espaços não-formais em que trabalhávamos era forte a reprodução do modelo formal.
Como educar meu filho em coerência com essas descobertas e sem me identificar com os modelos vigentes?
Foi assim que descobri os documentários Tarja Branca, Quando sinto que já sei e movimentos como o homeschooling e o unschooling (com que muito simpatizo).
Queria trazer para meu filho meu olhar demorado para o período mais intenso e curto de nossas vidas: a infância, cujo cuidado amoroso floresce para toda uma vida.
Conheci, ao longo desse processo, pessoas que já viviam essas práticas diferentes, pessoas que desejam transpor um modelo predominante buscando caminhos que façam mais sentido para o futuro que desejam.
Muitos pais se sentem aptos a conduzirem a aprendizagem de seus filhos e gostariam de ter o direito de fazê-lo como desejam.
Geralmente, tanto no homeschooling (em que há um currículo e organização da rotina de estudos e atividades e as crianças passam por avaliações periódicas) como no unschooling (aprendizagem totalmente livre do currículo escolar), a tarefa dos pais é extremamente exigente, pois eles devem ser capazes de recolher os espantos das crianças e auxiliá-las na construção autônoma de conhecimento.
A socialização é um ponto forte e muito discutido e por isso contei minha história: frequento a escola desde os 4 meses de idade e não me considero sociável. Muitos são como eu. E muitos não, desabrocharam melhor na escola.
A criança que não frequenta a escola está também inserida em sociedade: está na família, nas praças e parques, na padaria, no restaurante, no museu, na loja, como todas as outras e se relaciona com o outro da maneira como apreende o mundo, assim como o faz a criança que frequenta a escola.
Meu filho aprende muito ao observar minhas atitudes no ponto de ônibus, da fila do banco ou do supermercado, dentro de casa, na visita a uma amiga, na pracinha…e nestes espaços também ele exercita seu contato com o outro, com o mundo.
Faço uma analogia com o vegetarianismo: muitos ouvem a pergunta ‘Nossa, mas você não come carne, come o quê?”. Existe uma vasta oferta de produtos que não são carne, ainda muito maior que a oferta de carne.
Com a socialização é a mesma coisa Não é só na escola que se oferece esta oportunidade. Existe uma gama infinita de possibilidades.
Tudo pode ser educativo se direcionamos um peito aberto para aprender. Estudar em casa ou na vida pode não ser para muitos. Mas a escola talvez não seja para todos…
Sim, devemos lutar por uma educação de qualidade para todos, mas por que não considerar a diversidade e a tolerância justamente acolhendo outras perspectivas no campo vasto da educação?
O sistema escolar é feito por pessoas (como diz uma amiga: instituição não tem alma, as pessoas têm).
Sair da escola ou retardar o inicio da vida escolar não significa fugir do sonho de transformar a educação, mas pode ajudar a transformar pessoas e, estas sim, vão transformar a realidade.
Assim, me sinto apta a recolher os espantos do meu filho e testemunhar sua infância.
Carolina Rodrigues é mãe, arteterapeuta e educadora ambiental. Deseja imensamente contribuir para um mundo melhor, mais artístico, sensível e sustentável. Compartilha vivências criativas em educação no blog Dá Tua Mão e o olhar maternal em Os Olhos de Cauê.
Clara
27/agosto/2019 @ 15:32
Pessoalmente achou que e valido de ensinar em casa, mais a pessoa que faz precisa ter a minima de estrutura de fazer este invistimento na criança.
Clara