Habilidades socioemocionais na escola: qual é o impacto na vida adulta?
Com a aprovação da BNCC, as habilidades socioemocionais na escola firmaram-se como essenciais. Mas, afinal: de que forma elas impactam a saúde física e financeira na vida adulta da crianças?
A formulação de políticas públicas no mundo está atenta aos resultados de estudos sobre a educação infantil, porque pesquisas realizadas em importantes centros científicos mostram o quanto competências desenvolvidas na infância predizem a saúde física e financeira, a dependência a substâncias, a tendência a delitos e crimes no futuro de um indivíduo.
No Brasil, muito já se falou que o crime está diretamente ligado a uma educação pouco qualificada e que a educação é prioridade nacional. Então, por que a política educacional no Brasil parece não funcionar?
Uma equipe multidisciplinar da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos da América – PNAS, em fevereiro de 2011, Universidade de Chicago, Chicago, concluiu que habilidades de autocontrole, autodisciplina e perseverança, quando adquiridas na infância, reduzem o abandono escolar, a gravidez na adolescência, a delinquência, a dependência química e faltas ao trabalho.
Essa pesquisa é complementada pelo estudo em Saúde e Desenvolvimento de Dunedin, que pesquisou o universo de 1037 crianças nascidas no mesmo ano, numa determinada cidade, e acompanhou seu desenvolvimento até a idade de 32 anos.
O estudo demonstrou que, independentemente da classe social, o desenvolvimento do autocontrole na infância prediz melhores condições de saúde, afasta riscos de conduta e aumenta a predisposição para o planejamento financeiro da vida futura.
Quando o autocontrole continua a ser desenvolvido nesse sentido ao longo da vida, os resultados são ainda melhores.
E o nascimento de tal autocontrole é possível graças, também, à atenção dada às habilidades socioemocionais na escola.
Em contrapartida, o baixo autocontrole durante a infância aumenta o risco de problemas com o consumo de álcool e drogas; de gravidez precoce (formação de famílias monoparentais); dificuldades com gestão de dinheiro e crédito; e propensão a delitos criminais, mesmo após contabilizar origens e classe social.
Tornam-se adolescentes com atitudes autodestrutivas, acumulando erros e hábitos prejudiciais ao seu futuro, provocando hipertensão, sobrepeso, (indicadores de doenças onerosas para o futuro), tendência à dependência financeira e transgressão.
Portanto, políticas públicas inovadoras e investimento em qualidade de educação (incluindo o estímulo ao desenvolvimento de habilidades socioemocionais na escola), desde cedo, significam redução dos atendimentos de saúde, aumento de famílias bem constituídas, controle da criminalidade e redução do uso de drogas.
Verifica-se que o investimento público em educação, no Brasil, direcionado ao ensino superior é semelhante ao de países desenvolvidos.
Porém, os recursos destinados ao ensino básico são bem menores do que o necessário.
Mesmo que se direcione mais verbas para o ensino básico na educação brasileira é necessário que haja uma melhoria em sua qualidade para que as crianças tenham um desenvolvimento adequado, recebendo os estímulos certos nas idades corretas.
Diante das pesquisas, uma política educacional de qualidade para a infância deve incluir um trabalho de autocontrole (agressividade, impulsividade, grau de atividade, persistência etc), pois resulta em maior retorno social do que programas de controle, redução de danos ou encarceramento posterior.
Mesmo pequenos avanços na direção de uma educação para a promoção do autocontrole na infância, significam redução de custos para a sociedade devido à melhoria no campo da saúde, riqueza e criminalidade.
No Brasil, portanto, existem grandes desafios para melhorar a educação, combatendo a criminalidade e a pobreza. E a educação infantil tem tudo a ver com isso.
Políticas sociais não compensam o baixo desempenho cognitivo e de desenvolvimento pessoal que tem atingido jovens e crianças. Elas “enxugam gelo”.
Em creches e pré-escolas, crianças precisam se sentir acolhidas e seguras, atendidas por pessoas em quem confiem e que saibam que podem contar no momento de necessidade. E precisam, desde cedo, se sentir autoconfiantes.
Um lugar onde elas possam desenvolver habilidades, sua curiosidade seja atendida e o impulso de realização encontre os estímulos necessários.
Isso se consegue quando professores podem se dedicar a um acompanhamento mais atento a cada criança e têm tranquilidade para conduzir ensinamentos com criatividade e clareza. E, assim, desenvolvem habilidades socioemocionais na escola.
Nessa idade, mais do que em qualquer outra, crianças absorvem tudo o que presenciam e aprendem mais quando observam e praticam.
O que vivenciarem nesse momento será a percepção do mundo que irão levar pelo resto de suas vidas.
Uma grande responsabilidade para professores e pais, que apoiados por políticas públicas com visão de futuro, poderão proporcionar o grande salto de qualidade para toda sociedade.
Dulce Bressane é escritora de livros infantis, mestre em cultura, diretora de teatro e dramaturga. Atualmente, é coach em orientação para pais de crianças de 3 a 6 ano e autora da página Criar Filhos Hoje.