Bullying: o que aprendemos com “Extraordinário”
“Sei que não sou um garoto de dez anos comum. (…) crianças comuns não fazem outras crianças comuns saírem correndo”. Esta é a primeira fala de Auggie Pullman, protagonista do filme Extraordinário. A obra traz inspirações para educadores e pais combaterem um grande mal presente nas escolas: o bullying. Vamos conferir o que aprendemos sobre esse assunto no longa? 😉
Antes, precisamos citar que o problema é uma luta diária e depende da contribuição de todos para que o número de casos diminua cada vez mais. Em pesquisas recentes, como a da ONU, realizada em 2016, o Brasil tem uma taxa de 43% de crianças e jovens que já sofreram tal ato, por razões como aparência física, gênero, orientação sexual e etnia e a maioria deles ocorrem em sala de aula.
Sabendo dessa perspectiva, parece simples o caminho a seguir para combater o bullying, porém há alguns obstáculos pela frente. O primeiro deles é reconhecer que a participação de todos os envolvidos é bastante importante e que não é apenas trabalho da escola ou dos pais. A prevenção do bullying é uma responsabilidade coletiva e a comunicação entre todos os responsáveis torna a atenção e cuidado com os alunos mais efetivo. E o filme Extraordinário mostra exatamente isso.
Inspirado no livro de mesmo nome da autora R.J. Palacio, Auggie é uma criança de dez anos que nasceu com uma deformidade facial e frequentará pela primeira vez a escola e, consequentemente, a opinião, os olhares de estranheza e o julgamento de outras crianças. Ele sabe que é diferente e que será tratado de forma diferente. E como a escola, o(a) diretor(a), os professores e os pais se preparam para o acontecimento? Comunicação e consciência de que todos devem se empenhar para uma harmonia entre os alunos.
Todos sabem que Auggie será visto com outros olhos pelos alunos da escola e que inicialmente ele se sentirá deslocado. E o ponto alto do filme é mostrar a dedicação em tratá-lo de forma comum, como é feito pelos pais, e transmitir isso para o ambiente escolar. É o que o diretor na ficção, o Sr. Buzanfa, tenta fazer. Logo na primeira visita de Auggie ao colégio, ele é conduzido por estudantes em um tour pelas salas de aula, interagindo desde já com seus novos colegas, tentando fazer com que a recepção do novo aluno seja uma experiência agradável. Essa cena te lembra alguma situação escolar?
Uma das grandes lições de Extraordinário é reforçar a importância da não-omissão dos professores quanto a comportamentos negativos dos alunos. Orientá-los a observar, relatar e conversar sobre agressões verbais e/ou físicas, mostrando que ofensas não devem ser toleradas, é essencial para que comportamentos dessa natureza não se repitam. A figura do professor deve ser acolhedora, demonstrando aos seus alunos que, além de ensinar, o(a) professor(a) está disposto(a) a ouvir e ajudá-los, assim como abordar atividades sobre bullying em sala de aula, relatando seus impactos e suas soluções. E mais: após detectar alguma conduta ruim por um(a) aluno(a), é fundamental saber como lidar.
Em uma das cenas do longa, por exemplo, o diretor realiza uma reunião com o Julian, um dos colegas de classe de Auggie, e seus pais, relatando atos de bullying feitos em sala de aula, como desenhos incitando a estranheza do protagonista e seu deslocamento na escola. Na conversa, o diretor, que teve consciência dos ocorridos com a ajuda do professor da turma em que ambos estudam, deixa claro que as ações de Julian são sérias e que deve haver uma comunicação maior entre os pais e os filhos.
Além isso, Sr. Buzanfa tenta não rotular a criança como um bullie e sim deixar consciente para todos que o comportamento do Julian é errado e os males que podem causar tanto ao Julian quanto ao Auggie, e outras crianças ao redor. Isso mostra que é de extrema importância saber se comunicar com os pais em situações desse tipo para que eles não fiquem na defensiva em relação ao problema e busquem, em conjunto com a escola, a solucioná-lo. No filme, o exemplo dado pelos pais ao Julian é prejudicial, já que não há uma boa comunicação entre eles e os próprios não dão bons exemplos antibullying.
A escola faz o seu papel no combate contra maus comportamentos, mas, assim como em todas as situações, ela também não solucionará todo o problema sozinha. Seguindo a linha de soluções, o reconhecimento de um comportamento positivo de um(a) aluno(a) também é muito importante. Demonstrações de simpatia e gentileza com o outro devem valorizadas pela escola e pelos pais. Este é um ponto muito bem abordado em Extraordinário, que valoriza a compaixão pelo próximo e a não encorajar ações inadequadas, que em muitos casos podem se passar apenas como uma brincadeira de mal gosto.
A essência para mudar o panorama do bullying nas salas de aula é incitar os alunos a pensarem, debaterem e encorajá-los a buscar soluções ao invés de apenas apontar os problemas. Por esse motivo que o papel do(a) professor(a) é tão importante. Ele não mudará o mundo sozinho, mas ajudará seus alunos a entenderem por quê certas atitudes são erradas, propiciando um ambiente mais harmônico entre os estudantes.
É um caminho longo e muitas vezes difícil, mas a conscientização de que combater o problema é um trabalho coletivo pode começar pelas próprias escolas, com campanhas e diferentes atividades. Pequenos gestos e dinâmicas são boas formas de combater o bullying e fazem grande diferença. Afinal de contas, como nos mostra o filme, devemos sempre lembrar nas salas de aula que cada um tem algo especial a oferecer – e que todos somos, de alguma forma, extraordinários! Vamos mostrar isso aos nossos pequenos? 🙂