Dia da Criatividade: como aplicar as ideias de Leonardo da Vinci em sala de aula
Todos nós já ouvimos falar dos grandes feitos de Leonardo di ser Piero da Vinci, o “pai da Mona Lisa”, nos mais diversos campos do conhecimento. Ele foi escultor, arquiteto, matemático, urbanista, físico, astrônomo, engenheiro, químico, naturalista, geólogo, cartógrafo e estrategista militar! Muitos dos seus inventos só puderam ser realizados séculos depois como o helicóptero, a metralhadora, o submarino e o paraquedas. Neste Dia da Criatividade, 17/11, trazemos ideias para usar a criatividade e a biografia de Da Vinci em sala de aula.
Mas de onde veio toda essa genialidade? Será que Leonardo teve a sorte de nascer agraciado com todos esses dons? Segundo as pesquisas de Walter Isaacson que teve acesso a milhares de páginas dos cadernos manuscritos de Leonardo, a história não foi bem assim! Apesar de Leonardo não ter sido um professor, uma vez que ele não cursou nenhuma universidade e nem era essa a sua intenção, podemos tirar valiosas lições que ajudarão no nosso dia a dia em sala de aula. Apesar de termos mais de cinco séculos separando nossos tempos, você verá que muitas coisas podem ser aplicadas ainda hoje. Então não perca mais tempo, ou como se diz em bom italiano avanti professore!
1- Estimule a criatividade
Leonardo foi chamado de rebelde por seus contemporâneos por questionar as “verdades” da época. Sua curiosidade o levava sempre a pensar diferente, típico de uma mente genial.
Sabe aquele antigo ditado popular: Não dê o peixe, mas ensine a pescar? Pois é. Aula onde o professor já chega despejando o conteúdo, o assunto acaba perdendo a graça! Procure atiçar a curiosidade dos alunos a respeito do conteúdo.
*Dica: lance desafios a respeito do assunto. Pode ser em forma de charadas, enigmas ou pegadinhas, peça que eles tragam a resposta na próxima aula. Você vai ver como eles vão chegar super empolgados!
Veja também como as artes e a criatividade podem ajudar no gosto pela leitura nesta matéria aqui.
2- Valorize o conhecimento informal
Em um de seus cadernos, Leonardo relata que foi tachado de “homem iletrado” por não ter tido acesso a uma educação formal. Em outra folha ele escreve: “Eles dirão que, por não ter sido educado pelos livros, eu não sou capaz de expressar de forma adequada o que desejo”.
Muitas vezes, nós educadores, agimos como os contemporâneos de Leonardo julgando ou desvalorizando o conhecimento prévio dos alunos, sua bagagem de vida e experiência extra escolar. No entanto, este é um grande erro. Esse tipo de conhecimento deve ser visto como o ponto de partida para uma aprendizagem efetiva e consistente, uma vez que está enraizada em suas vidas. Afinal, quando a valorizamos, o aluno se sentiu seguro e acolhido tornando-o mais propenso para o aprendizado.
*Dica: que tal trocar aquela velha atividade Como foram suas férias? por O que você sabe a respeito disso? Arrume a sala em formato de círculo e aleatoriamente vá convidando os alunos para falarem sobre seus conhecimentos acerca do assunto. Vá anotando tudo no quadro independente das respostas estarem certas ou erradas. Dê espaço para todos falarem e por fim faça suas complementações e correções.
3- Lembre-se: a experimentação dinamiza o aprendizado
Sobre a importância da experimentação, Leonardo escreveu: “Primeiro devo fazer algumas experiências e só então prosseguir, já que minha intenção é a de consultar primeiro a experiência e depois, através do raciocínio, demonstrar por que tal fenômeno ocorre dessa forma”.
Portanto, pôr a mão na massa é sempre mais divertido, com criatividade e instigante. Então, pergunte aos seus alunos se as aulas de química, por exemplo, são mais interessantes na sala convencional ou no laboratório? É comprovado cientificamente que ao praticarmos o que estudamos, o nosso cérebro fixa mais facilmente esta informação. Por isso, a importância de aulas de laboratório das diferentes disciplinas.
*Dica: Geralmente os assuntos estudados em sala de aula são muito teóricos, bem diferentes do dinamismo que nossos alunos estão acostumados a ver em seus jogos eletrônicos. Pesquise formas dinâmicas para “materializar” os conteúdos. Existem diversos sites que mostram ideias bem criativas, basta só você pesquisar. E lembre-se daquela regrinha de ouro: prepare uma aula da mesma forma que você queria ver se fosse um aluno. É sucesso na certa!
4- Relacione diferentes campos do conhecimento
No período em que Leonardo viveu, era muito comum encontrar durante o intervalo do almoço diferentes trabalhadores conversando e trocando informações sobre suas especialidades em plena piazza (praça). As conversas iam desde a confecção de calçados a anatomia, oferecendo aos cidadãos um vasto leque de informações. Desta forma, Leonardo foi um desses que aprendeu a dominar e a combinar diferentes campos de conhecimento.
Por isso, use a criatividade e mostre aos alunos a ligação que existe entre as disciplinas e sempre que possível faça hiperlinks com outros conteúdos. Fale para eles sobre o quanto o mercado de trabalho valoriza os polímatas (pessoas que detêm um vasto conhecimento em diversas áreas).
*Dica: Se a turma gosta de filmes, assista com eles Quem quer ser um milionário?, 2008, conta a história de um pobre menino indiano que ganha um programa de perguntas e respostas graças ao seu vasto conhecimento em temas diversos. Outra sugestão é baixar o joguinho para celular EU SEI, disponível gratuitamente, ele requer do jogador conhecimentos em várias disciplinas. Isso estimulará a pesquisa e o gosto pelo saber.
5- Pense que nada está pronto ou acabado!
Leonardo dizia que sempre existiria algo a mais para aprender, novas técnicas para aprimorar e novas inspirações que pudessem surgir. Constantemente ele fazia alterações em suas pinturas, sempre em busca de aperfeiçoá-las.
Desta forma, o mesmo pode ser feito em sala de aula. Nos primeiros contatos com as turmas é importante que o professor faça um diagnóstico do conhecimento da turma em sua disciplina. Para isso, lance mão de instrumentos variados (redações, portfólios, diários de bordo) e use a criatividade. Assim, no final do ano letivo eles e você possam ver com clareza a evolução de seus conhecimentos e assim planejar novas estratégias de intervenção, se necessário, para o ano seguinte.
*Dica: pergunte aos alunos quais atividades eles mais gostaram. Isso é um ótimo indicativo de quais metodologias funcionam e devem ser mantidas, pois, em time que está ganhando não se mexe!
6- Entenda que corpo e mente estão conectados
“Os movimentos do corpo são os anúncios do movimento da mente”, escreveu Leonardo. Ele procurava entender, através de dissecações de cérebros, os movimentos do corpo. E também a forma como eles se relacionavam com o que ele denominou de atti e moti mentali, as atitudes e os movimentos da mente. Em uma tradução para os dias de hoje, Leonardo foi o precursor dos fundamentos da Neurociência.
As crianças, como sabemos, e especialmente os adolescentes passam por muitas mudanças não só físicas como psicológicas. Compreender e principalmente respeitar esse processo é fundamental para entender como se processa a aprendizagem em cada fase do indivíduo. Afinal, quem nunca se deparou na sala com um aluno que parecia estar com a cabeça em outro lugar?
*Dica: As preocupações, os medos e inseguranças podem funcionar como bloqueadores da aprendizagem. Muita conversa e uma boa dose de paciência podem ser uma boa pedida. Inclua em seu repertório de atividades situações típicas de cada fase. Se seus alunos são adolescentes, crie exercícios que envolvam seus ídolos, por exemplo. Isso com certeza chamará bastante a atenção e trará a cabeça deles de volta, rs.
7- Tenha sempre um zibaldone à mão!
Na Itália renascentista era muito comum ter sempre consigo um caderno de notas e rascunhos chamados de zibaldone. No início de sua carreira, Leonardo registrava principalmente ideias que julgava serem úteis a sua arte e engenharia. Depois, ele passou a registrar também suas curiosidades e impressões que mais tarde serviu de insights para suas mais geniais invenções.
Na verdade, a prática de se ter um “caderninho” é muito comum entre os professores para fazer suas anotações sobre atividades, as notas dos alunos… Que tal incrementá-lo com ideias inovadoras e práticas pedagógicas mais desafiadoras? Existem uma série delas sendo divulgadas por professores do Brasil inteiro. Analise e veja qual delas se adequa a sua realidade e não se esqueça de anotar as impressões dos alunos sobre elas em seu zibaldone.
*Dica: Por isso, sugira aos alunos que mantenham consigo um caderninho de curiosidades. Pode ser até em seu próprio caderno escolar. Eles geralmente já fazem isso nas famosas “últimas páginas do caderno. Outra ideia é criar um caderno coletivo para a turma. É interessante que os alunos escrevam nele alguma curiosidade ou outros dados relevantes sobre o assunto estudado. Também é hora de usar a criatividade! Isso aumentará o conhecimento da turma e pode servir de consulta para a turma do ano seguinte!
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Jayse Ferreira é escritor, arte educador e palestrante com especialização em Psicopedagogia. Venceu duas vezes o Prêmio Professores do Brasil em 2014 e 2017. Em 2019 foi escolhido como um dos 50 melhores professores do mundo pelo Global Teacher Prize. Em 2020 foi agraciado com o prêmio FAZ DIFERENÇA do Jornal O GLOBO por criar estratégias inovadoras de ensino na pandemia. Há quatro anos atua como consultor educacional da Estante Mágica, maior projeto de leitura e escrita da América Latina.