O que aprendemos sobre educação visitando Harvard?
No final de abril, estivemos em Boston para fazer uma apresentação na Universidade de Harvard sobre como a Estante Mágica vem estimulando habilidades de leitura e escrita entre milhares de crianças pelo Brasil.
Nossa trip encantada começou no Aeroporto do Galeão despachando as malas pro voo de Boston, com conexão de quase 24 horas no Panamá.
Relapsos, tomamos a vacina plena de febre amarela num período inferior aos 10 dias prévios solicitados pelo Panamá e por outros países cujo nível de exigência não permite a dose fracionada. ?
No check-in, fomos avisados pela companhia aérea que, caso tentássemos ousar sair da área de transferência do aeroporto do Panamá, seríamos deportados, pagaríamos uma multa e nunca mais pisaríamos em solo panamenho. Uou! – depois te tantos argumentos convincentes, achamos por bem ficar quietinhos no terminal mesmo.
Chegamos a Boston e fomos calorosamente recepcionados por lindos flocos de neve. Era o início de uma experiência encantadora em que tivemos a oportunidade de conversar com mentes brilhantes na área educacional: os professores e alunos da universidade de maior prestígio no mundo.
Diversos foram os aprendizados dessa viagem mágica, razão pela qual destacamos quatro lições que podem inspirar professores, coordenadores e diretores.
1) A inovação educacional passa por mobilidade
O acesso quase universal a ferramentas móveis é uma perspectiva real para os próximos anos. Estima-se que mais de 1 bilhão de chineses e 50% da África Subsariana terão acesso a smartphones até 2020. Em 2025, 90% da população terá acesso à internet.
As inovações educacionais passam então pela criação de soluções que tenham capacidade de escala por meio das ferramentas portáteis, os tais smartphones.
Educadores de todo o mundo vão ter acesso a capacitações que farão de suas aulas mais significativas; plataformas de ensino adaptativo que criarão trilhas de aprendizagem customizadas para cada aluno; feedbacks em tempo real sobre o desenvolvimento de cada aluno; portfólios digitais de cada criança – em substituição aos modelos avaliativos tradicionais; entre outras disrupções.
2) O modelo educacional não fracassou
Não adianta dizermos que o modelo educacional presente há mais de dois séculos em nossas salas de aula não funcionou. Em sua origem, a educação prussiana tinha o objetivo de universalizar o ensino, tirar as crianças do trabalho e produzir capital humano para as fábricas. E alcançou seus objetivo com sucesso. Quase todas os jovens de menos de 20 anos passaram boa parte de seus tempos em instituições educacionais.
O grande desafio atual é focar na relevância – adaptar a qualidade do ensino para o século XXI e difundi-la em larga escala. Existem iniciativas educacionais formidáveis, mas nenhuma delas teve (ainda) a capacidade de expansão global. O caminho consiste em buscar iniciativas incríveis que desenvolvem competências fundamentais para os novos tempos e torná-las públicas e visíveis.
3) “Faz sentido pra você?”
Nos diversos debates que tivemos em nossa estadia em Boston, uma preocupação era disseminada entre os diversos professores de Harvard: o foco em fazer com que o interlocutor entendesse o que estava sendo falado.
Ao final de cada explanação, um fechamento era quase obrigatório: “o que eu falei faz sentido pra você?”. Quando questionamos o hábito de tal pergunta, recebemos como resposta:
“Não importa o que eu estou falando se vocês não compreenderem. O objetivo da minha mensagem é fazer com que você captem o que falei. Por isso, é sempre importante nos certificamos que o que está sendo falado faz sentido pra você.”
A correlação com o processo ensino-aprendizagem foi instantânea. Ou como diria Paulo Freire, não existe ensino sem aprendizagem. =)
4) Quanto mais incrível, mais simples
Quando criança, um de meus sonhos juvenis era encontrar o Romario. Idealizei tanto o momento que, ao esbarrar com ele, petrifiquei, fiquei mudo! O chiclete que mascava e o jeito aparentemente indolente em nada contribuíram para que meus lábios balbuciassem qualquer palavra – e ali morria qualquer pretensão de fazer dupla com ele na pelada da escola.
Ao chegarmos a Harvard, a lembrança pueril voltou à tona e uma ansiedade se instaurou. “Como esses caras que a gente lê livros e vê artigos nos principais jornais do mundo vão recepcionar a gente? Será que serão encontros frios e pragmáticos?”
Ah, ledo engano! Encontramos várias de nossas inspirações e referências e pudemos concluir que quanto mais incrível e renomado era o professor, mais simples e humano ele também era.
Tivemos conversas riquíssimas, mas também demos boas risadas, compartilhamos paçocas (o doce de amendoim), convidamos alguns deles para virem ao Brasil e até estivemos na casa de um desses grandes mestres de Harvard.
Voltamos ao Brasil com uma mala cheia de histórias incríveis, inspirados a gerar a oportunidade para que milhões de outras crianças pelo mundo possam também encher suas malas e suas vidas de histórias incríveis.
Vamos juntos nessa?
Abraços Mágicos!
RUBENS PINHEIRO GUIMARAES
21/maio/2018 @ 07:57
Bom dia. Penso que Inovação rima Educação! E vice versa. Não dá mais para ficar atrelado a receitas e modelos de outros tempos. Como uma roupa que não serve mais! Parabéns pela iniciativa e excelentes Projetos, do qual em um deles meu filho Daniel participou. Abraço!
Davino Alves da silva
12/maio/2018 @ 20:19
Parabéns pelo texto tao rico,lições fantásticas.