Ser mãe: iluminar para iluminar-se
Quanta Luz me trazem
Os Olhos de Cauê
Dentro deles, um Universo inteiro
Quantas Alegrias me trazem
os Olhos de Cauê
Meus cúmplices,
Eles me penetram profundamente
Que olham quando me veem?
Os Olhos de Cauê
me hipnotizam e inquietam
acolhem e despertam
Os Olhos de Cauê
me levam para longe
Os Olhos de Cauê me levam
para dentro de mim.
Depois do grito, silêncio demorado em milésimo de segundo. Ele chegou olhando para mim e eu, maravilhada, só pensava: “UAUUU! É de verdade!”. Um ser humano habitou em mim e eu fui seu canal para a Luz! Dei à Luz. Mas foi a Luz refletida nos olhos dele que me iluminou…
No início, porém, o que essa Luz reflete pode ser extremamente doloroso. Graças a esse olhar de nosso filho para nós, podemos ver com clareza segredos, medos, fraquezas e crenças a curar.
Acessamos profundamente nossas escuridões, o que nos faz sentir, por muitas vezes extremamente culpadas. É dolorosa a busca pela coerência, porem, é importante passo para um processo de intensa transformação.
Quando engravidei, intuitivamente me recolhi em mim, como se começasse a preparar meu ninho. Me exercitava, dançava, meditava, conversava com aquele ser que em mim morava.
Lia para ele, cantava para ele… A tola menina que não queria ter filhos queria provar a si mesma que era capaz. Tive o privilégio de ter contato com ideias que me tocavam e faziam muito sentido para mim e fui me encantando com a maternidade.
Mesmo semanas após o nascimento do Cauê pude ler “A Maternidade e o encontro com a própria sombra”, de Laura Gutman; pude assistir “Tarja Branca”, “o Começo da Vida”, “O Renascimento do Parto”, “Quando sinto que já sei” e também, no contato com outras mães, fui percebendo que o que me fora ofertado era a oportunidade de me tornar alguém melhor.
Os olhos de Cauê continuavam a me observar e iluminar o tempo todo, espelhando tudo o que era preciso trabalhar em mim mesma.
Era preciso me reeducar. Atentar-me a cada postura que seria transmitida à criança e por ela reproduzida. Mostrar-me disposta a aprender para que ele pudesse aprender comigo.
Observar a ele, observar a mim, recriar-me para ser a melhor inspiração para essa Criança. Algo que me era intuitivo desde a gestação foi se intensificando na medida em que meu filho crescia.
Assim, do recolhimento no ninho fomos expandindo, crescendo juntos. Crescia a criança, crescia a mãe. Estar aberta a aprender com o filho é fundamental, ao mesmo tempo, um presente.
Todo esse processo é extremamente exigente. Muito exigente. Acolhimento, abnegação, repetição, exercício intenso de paciência, disponibilidade, entrega, coragem.
Esvaziar-se para deixar-se preencher pelo outro até o momento de reencontrar-se e voltar a si, deixando o outro ir…
Exercício diário e profundo de amor incondicional. Dança de expansão e contração… Aprender a equilibrar a profundidade das raízes com a liberdade das asas. Haveria outra forma de conduzir outro ser humano?
Ao longo deste tempo, fui descobrindo então que o Ser mãe, o ser maternal, sempre me habitou. Era mãe e não sabia. Fui percebendo a maternidade para além do filho, mas a simbologia maternal que todos nós contemos e o quanto eu sempre tive de disposição para recriar-me.
Ser mãe é esse processo “artesanal” de iluminar e deixar-se iluminar. É estar disponível para amar e crescer com alguém ou mesmo com algo – um sonho, uma ideia… Co-criar.
Dar espaço em si para dar à luz aquilo que vai iluminar a nós mesmos. Ser maternal é a arte de nos deixarmos moldar pelo amor. E todos temos essa potência dentro de nós.
Há outros fenômenos em nossas vidas que podem provocar toda essa transformação interior, mas para quem deseja e se permite, a maternidade é possibilidade arrebatadora de autoeducação. É feito à mão. Árduo. É exigente.
Por vezes desesperador. Sem outros braços que nos acolham, para que possamos acolher o filho, é quase impossível. Entretanto, a evolução que temos ao conduzirmos à Luz outro ser humano, ah… isso é plenitude… ser mãe é “uau”!
Carolina Rodrigues é mãe, arteterapeuta e educadora ambiental. Deseja imensamente contribuir para um mundo melhor, mais artístico, sensível e sustentável. Compartilha vivências criativas em educação no blog Dá Tua Mão e o olhar maternal em Os Olhos de Cauê.